Aquele animal quadrúpede certo dia levantou-se nas patas traseiras, equilibrou-se e saiu a andar.
Aí então evoluiu!
Aquele animal que se tornou bípede aprendeu a usar os braços livres, e nas mãos livres descobriu os dedos, e os dedos livres apontavam as coisas.
Aí então evoluiu!
Aquele animal pegou uma pedra e atirou na caça, pegou um galho grande e criou uma alavanca, triscou uma rocha em outra e com a faísca descobriu como fazer o fogo.
Aí então evoluiu!
Aquele animal na caverna reuniu-se com todos junto ao fogo, aqueceu-se do frio, protegeu-se das feras e pode enfim descansar e pensar.
Aí então evoluiu!
Aquele animal que só sabia grunhir, tendo feito tantas coisas e descoberto outras tantas, para cada uma delas inventou um grunhir diferente. Criando a linguagem passou a raciocinar.
Aí então evoluiu!
Aquele animal que deu nome às coisas passou a dar nome a si mesmo e aos outros animais, percebeu o quanto são diferentes uns dos outros. Conhecendo as diferenças compreendeu como dominar.
Aí então evoluiu!
Aquele animal que começou a raciocinar, graças às palavras e símbolos que criara cada vez mais se distanciava dos outros animais, pretendendo ser a espécie predominante.
Aí então evoluiu!
Aquele animal tornado ser humano tomou-se de orgulho, que nunca mais o abandonou, e já que havia imaginado deuses para tudo também imaginou um deus para si mesmo, a sua imagem e semelhança...
Aí então evoluiu?

10º lugar concurso poesia Conservatória RJ 2017